terça-feira, 12 de agosto de 2014

Disfunção Erétil, Doença Cardiovascular e Saúde do Homem

A disfunção erétil (DE) é a incapacidade de alcançar ou manter uma ereção suficiente e satisfatória no ato sexual (NIH 1993). O termo mais utilizado, inicialmente, para referir esta patologia era “impotência”. No entanto trata-se de uma designação com conotação depreciativa e não específica, tendo sido posteriormente substituída por disfunção erétil (Moreira et al., 2002). Esta desordem afeta cerca de 150 milhões de homens em todo o mundo, com estimativa de aumentar a prevalência para acima de 300 milhões até 2025 (Ayta, McKinlay, Krane , 1999). A DE aumenta com a idade afetando, de 5 a 10%, homens com idade de 40 anos e, 40 a 60%, homens com 70 anos (Feldman et al., 1994). Embora não seja letal, DE, compromete o bem-estar e a qualidade de vida.

A disfunção erétil partilha fatores de risco comuns com as doenças cardiovasculares (DCV), sendo que vários estudos clínicos têm mostrado que a DE prediz a presença e a extensão de aterosclerose (Peixoto 2012). A implementação de bons hábitos, que passam pela modificação dos estilos de vida – evitar o álcool e o tabaco, promover a atividade física regular – e o controle adequado da pressão arterial, da diabetes mellitus e de dislipidemias diminui a propensão para desenvolver DE (Perdigão et al., 2008). A DE é um sintoma e um alerta para doença vascular silenciosa. Um homem com disfunção erétil mas sem nenhum sintoma cardiovascular é um paciente cardíaco segundo a terceira conferência de Princeton (Princeton III) realizada em 2010. Essa mesma conferência enfatiza a importância da avaliação do risco cardiovascular em homens com DE, ou seja, medidas de glicose e lipídeos no sangue, bem como, medida de pressão arterial, teste ergométrico e eletrocardiograma para facilitar a estratificação de risco.

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) foi criada, no Brasil, pelo médico sanitarista José Gomes Temporão em março de 2008. Essa política propõe qualificar a atenção à saúde da população masculina na perspectiva de linhas de cuidado que resguardem a integralidade da atenção, ou seja, promover, prevenir e assistir os homens compreendendo suas particularidades (Vieira et al., 2011). A população masculina alvo da Política de Atenção Integral à Saúde do Homem se estabeleceu na faixa etária de 25 a 59 anos que corresponde a 41,3 % da população masculina ou a 20% do total da população do Brasil. Essa população também corresponde a parcela preponderante da força produtiva, e exerce um significativo papel sociocultural e político. Aproximadamente 75% das enfermidades e agravos dessa população está concentrada em cinco grandes áreas especializadas: cardiologia, urologia, saúde mental, gastroenterologia e pneumologia (ministério da saúde 2008).

Vários estudos comparativos, entre homens e mulheres, têm comprovado o fato de que os homens são mais vulneráveis às doenças, sobretudo às enfermidades graves e crônicas, e que morrem mais precocemente que as mulheres (Nardi et all, 2007; Courtenay, 2000; Laurenti et all, 2005; Luck et all, 2000). A despeito da maior vulnerabilidade e das altas taxas de morbimortalidade, os homens não buscam, como as mulheres, os serviços de atenção básica (Figueiredo, 2005; Pinheiro et all, 2002). Grande parte da não-adesão às medidas de atenção integral, por parte do homem, decorre das variáveis culturais. Os estereótipos de gênero, enraizados há séculos em nossa cultura patriarcal, potencializam práticas baseadas em crenças e valores do que é ser masculino. A doença é considerada como um sinal de fragilidade que os homens não reconhecem como inerentes à sua própria condição biológica. O homem julga-se invulnerável, o que acaba por contribuir para que ele cuide menos de si mesmo e se exponha mais às situações de risco (Keijzer, 2003; Schraiber 2005; Sabo, 2002; Bozon, 2003). A isto se acresce o fato de que o indivíduo tem medo que o médico descubra que algo vai mal com a sua saúde, o que põe em risco sua crença de invulnerabilidade (ministério da saúde 2008). Muitos agravos poderiam ser evitados caso os homens realizassem, com regularidade, as medidas de prevenção primária. A resistência masculina à atenção primária aumenta não somente a sobrecarga financeira da sociedade, mas também, e, sobretudo, o sofrimento físico e emocional do paciente e de sua família, na luta pela conservação da saúde e da qualidade de vida dessas pessoas (ministério da saúde 2008).

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